"...Porque no fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia." CFA
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Mamões e casamento
Faz um tempo, minha esposa tomou a missão de colocar frutas no meu café da manhã.
Outro dia, uma tarde chuvosa, saí do trabalho e passei no mercado para comprar alguns mamões. Na banquinha, achei só uns poucos, e todos meio feios. Garimpei, escolhi os mais apresentáveis e acabei conseguindo três, cada um com algum defeito pequeno.
Na manhã seguinte, cortei o primeiro em dois: uma metade com umas marcas de batida na casca e a outra perfeita. Comi a parte pior –tive que jogar uma colherada no lixo– e deixei a melhor sobre o balcão da cozinha. Mesma coisa fiz na segunda manhã, com o segundo. O último que sobrou na geladeira tinha uns pontos pretos; virei-o na prateleira de um jeito que escondesse as manchas.
Pois hoje, dia do último mamão, minha mulher acordou mais cedo –normalmente eu me levanto meia hora antes– e, quando eu saí do banho, ela já tinha tomado café da manhã e cantarolava no quarto. Fui para a cozinha e estava lá meu cereal, o leite, o pão, os frios e uma metade de mamão. Na hora, lembrei dos pontinhos podres e virei o bendito para ver: imaculado. Minha esposa acabara de ficar com o pedaço ruim.
Pegando a colher, me senti meio culpado por não ter ido à cozinha antes que ela. Mas, no segundo seguinte, pensei que isso seria negar que ela também pudesse fazer algo por mim. Imagino que tenha ficado feliz por ter saído da cama mais cedo para descobrir a parte ruim do mamão e escondê-la de mim, a mesma alegria silenciosa que eu tivera nos dois dias anteriores. Porque, no fundo, um casamento é isso: oferecer ao outro sempre a melhor metade. (Bruno Palma)
domingo, 18 de novembro de 2012
"Não venha roubar minha solidão, se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca." Nietzsche
E que se dane com quem você fica, quando não tá comigo. O que você faz, fala, seus planos e expectativas. Porque 'estar comigo' é raso demais e talvez nem valha a pena mergulhar fundo, mais uma vez. Morrer afogada, de novo. Estar contigo é
ótimo, eu gosto muito da sua companhia, de como a gente funciona e adoro como eu me sinto, de verdade. Mas não é você, no fundo eu sei e tudo bem. Ainda não é você quem vai me deixar paranóica por não ter motivos pra ter paranóias. Não é você o cara que eu vou poder fazer planos em paz e pensar com um sorriso bobo em como nossos filhos seriam bonitos, e torcer pra terem o seu cabelo. Não é você que vai me segurar se eu desabar, não é. Nem você, nem ninguém que já tenha passado pela minha vida. Talvez ninguém mesmo, assim, sem complementos: Ninguém no mundo. Porque eu não sou fácil, tenho plena consciência disso. Sei que homem é homem, blablabla natureza, instinto, perdão, tô sabendo de todas essas coisas também. Mas eu levanto um letreiro neon escrito amor e não abro mão de que me entendam, assim como entendem toda essa babaquice de banalizar fidelidade por causa de uma merda de impulso. Me poupe, quem não tem esses momentos? Mulher também sente atração, mulher também é cercada de tentações, então vamos pular essa historinha pra boi dormir. Minhas necessidades também tem que ser supridas e isso, fatalmente, colide com essa tolerância que, supostamente, as mulheres devem ter pra manter um relacionamento duradouro e feliz. Não tô pronta pra isso, entender, entender, engolir sapo, relevar, entender mais um pouco. Acho que nessas minhas tentativas de ser dois, acabei ficando unitária demais, egoísta demais, sozinha demais, exigente. Não nasci pra aturar essa gente tão acomodada nesse machismo imbecil, valores perdidos, tempo atrasado. E, sem querer parecer frígida, tenho achado que esse tipo de solidão é meu prêmio, não meu castigo.
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