terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas.

Três dias se passaram desde a tragédia que colocou fim em 233 sonhos. Hoje, "passeando" como de costume pelo facebook me deparo com essa imagem e não consigo conter as lágrimas. Pensar que dia a dia somos vítimas da morte e que ela é a nossa única certeza me faz repensar em cada dia vivido ao longo desses 21 anos de pés cansados e milhares de cicatrizes no coração. Meu medo de falar o que sinto me fez criar o blog como uma maneira de desabafar, cada texto aqui foi inspirado em alguém ou em algum momento que vivi. Agora imaginem se eu fosse uma dessas vítimas?! E se eu tivesse tanta coisa pra dizer e a vida na sua eterna interrogação me calasse para sempre... Não, eu não quero ter medo de desabar quando olhar nos seus olhos e te pedir pra ficar, eu não quero que o orgulho me impeça de pronunciar um "eu preciso de você" e um "me perdoe", não, definitivamente eu não quero isso. Sinto um nó no meu peito quando a cada instante são postados depoimentos das pessoas que perderam entes queridos no incêndio em Santa Maria, foram pais, filhos, namorados, amigos, que sentiram a dor de se despedir sem um último adeus. Peço encarecidamente para todos aqueles que lerem esse texto dediquem um pouco do seu tempo à uma oração pelos jovens que foram brutalmente interrompidos em sua jornada e por seus familiares que estão enfrentando a dor da ausência. E peço também que não se calem diante daquilo que pensam ou sentem, amanhã pode ser tarde...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Simples assim.

"Cometa bobagens. Não pense demais porque o pensamento já mudou assim que se pensou. O que acontece normalmente, encaixado, sem arestas, não é lembrado. Ninguém lembra do que foi normal. Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público. Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio. Não há anjo a salvar os ouvidos, não há semideus a cerrar a boca para que o seu futuro do passado não seja ressentimento. Demita o guarda-chuva, desafie a timidez, converse mais do que o permitido, coma melancia e vá tomar banho de rio. Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta. Cometa bobagens. Não compre manual para criar os filhos, para prender o gozo, para despistar os fantasmas. Não existe manual que ensine a cometer bobagens. Não seja sério; a seriedade é duvidosa; seja alegre; a alegria é interrogativa. Quem ri não devolve o ar que respira. Não atravesse o corpo na faixa de segurança. Grite para o vizinho que você não suporta mais não ser incomodado. Use roupas com alguma lembrança. Use a memória das roupas mais do que as próprias roupas. Desista da agenda, dos papéis amarelos, de qualquer informação que não seja um bilhete de trem. Procure falar o que não vem à cabeça. Cantarolar uma música ainda sem letra. Deixe varrerem seus pés, case sem namorar, namore sem casar. Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para contar. Leve uma árvore para passear. Chore nos filmes babacas, durma nos filmes sérios. Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras. Não diga “eu sei, eu sei”, quando nem ouviu direito. Almoce sozinho para sentir saudades do que não foi servido em sua vida. Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam para ser os outros em você. Transforme o sapato em um barco, ponha-o na água com a sua foto dentro. Não arrume a casa na segunda-feira. Não sofra com o fim do domingo. Alterne a respiração com um beijo. Volte tarde. Dispense o casaco para se gripar. Solte palavrão para valorizar depois cada palavra de afeto. Complique o que é muito simples. Conte uma piada sem rir antes. Não chore para chantagear. Cometa bobagens. Ninguém lembra do que foi normal. Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer. É preferível a coragem da mentira à covardia da verdade." Carpinejar